O presidente Jair Bolsonaro (PL) chamou representantes estrangeiros para, como ele disse, fazer uma “apresentação técnica” sobre o sistema eletrônico de votação do país.
Os embaixadores, que ouviram calados Bolsonaro repetir uma série de denúncias mentirosas sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas, sem apresentar qualquer prova ou ao menos inidícios, consideraram o evento um ato de campanha eleitoral. Nada do que Bolsonaro disse mudou a impressão geral de confiança na segurança das eleições brasileiras, segundo relataram ao Estadão alguns diplomatas que pediram anonimato.
As manchetes dos jornais brasileiros destacaram que o presidente, que já deu 5.724 declarações falsas ou distorcidas em 1.287 dias de gestão, de acordo com o site Aos Fatos, mentiu mais uma vez sobre as urnas e ainda fez novas ameaças golpistas.
A imprensa internacional foi no mesmo tom, como mostra o Estadão. O americano The New York Times chamou o gesto de Bolsonaro de “potencial prévia” de sua estratégia para uma eleição na qual, como apontam as pesquisas, “ele pode perder de forma esmagadora”. O ex-presidente Lula (PT) lidera todas as pesquisas de intenções de voto e pode vencer no primeiro turno das eleições, que será realizada no dia 2 de outubro.
Para o NYT, Bolsonaro pode estar seguindo as pegadas do ex-presidente americano Donald Trump, que atiçou apoiadores contra o sistema eleitoral dos Estados Unidos em uma ação que desembocou no ataque ao Capitólio, no início do ano passado, que deixou 5 mortos.
Na reunião comos embaixadores, realizada nesta segunda-feira (18), no Palácio da Alvorada, além de mentir sobre a suposta insegurança das urnas eletrônicas, Bolsonaro fez novas ameaças golpistas e atacou os ministros do (Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele disse aos embaixadores ter “quase 100 vídeos de pessoas reclamando que foram votar e o voto foi para outra outras pessoas.”
Segundo ele, todas as “falhas” apresentadas pelas Forças Armadas – por meio de seu ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira – podem ser “corrigidas” antes da eleição.
E seguiu atacando mais uma vez os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, presidente, e o vice, Alexandre de Moraes, que durante as eleições será o presidente do TSE, além de Luís Roberto Barroso, que já presidiu o tribunal. Disse que as supostas falhas só não são “corrigidas” porque eles não querem.
Bolsonaro disse que não queria criar “instabilidade no Brasil”, apesar de atacar o sistema eleitoral, os tribunais (TSE e STF) e seus ministros e acusar “um grupo de três pessoas (Fachin Moraes e Luís Roberto Barroso)” que, segundo ele, “querem trazer instabilidade para o nosso país, [e que] não aceitam as sugestões das Forças Armadas”.
Ele tentou desacreditar os ministros, relacionando especialmente Fachin e Barroso ao PT e ao ex-presidente Lula.
“É hora de dizer basta” aos ataques feitos ao processo eleitoral brasileiro e ao sistema das urnas eletrônicas, reagiu Fachin durante o lançamento da campanha de Enfrentamento à desinformação pela seccional do Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Fachin disse que a Justiça Eleitoral e seu representantes são “atacados com uso de má fé” e criticou o “envolvimento da política internacional”.
“Mais uma vez a Justiça Eleitoral e seus representantes máximos, são atacados com acusações de fraude, ou seja, uso de má fé. Ainda mais grave, é o envolvimento da política internacional e também das Forças Armadas, cujo relevante papel constitucional a ninguém cabe negar como instituições nacionais, regulares e permanentes do Estado, e não de um governo. É hora de dizer basta à desinformação e ao populismo autoritário que coloca em xeque a Constituição de 1988”, disse o ministro, segundo a CNN.
Vexame
O vexame protagonizado por Bolsonaro no encontro com embaixadores, que pode resultar até mesmo em crime eleitoral e deixá-lo inelegível, foi obra dos generais Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria-Geral da Presidência; Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira; ex-comandante do Exército que está à frente da Defesa; e Walter Braga Netto, ex-ministro e pré-candidato a vice na chapa que concorre à reeleição.
Além deles, diz texto da Revista Fórum, o tenente-coronel Mauro César Barbosa Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, teria organizado o evento.
Segundo reportagem da CNN Brasil, realtada pela Fórum, coube ao tenente-coronel a incumbência de preparar a apresentação em Power Point, que traz na capa um erro crasso de inglês, ao grafar briefing como “brienfing”. O militar é filho do general Lorena Cid, que exerce um cargo de confiança no escritório em Miami da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex).
fonte: Redação CUT