Ao contrário do marketing que fazia nas redes sociais, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não é um homem simples, de hábitos comuns, como comer frango com as mãos e se sujar de farinha ou se empanturrar de pastéis nas feiras do entorno do Distrito Federal.

Isso era fachada, fake news para manter seus seguidores crentes de que ele era de fato um mito. Bolsonaro escondeu do país seu gasto milionário no cartão corporativo, além de mentir 15 vezes em suas lives ao dizer de que não o utilizava.

A farsa foi exposta com a decisão do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de acabar com o sigilo de 100 anos dos gastos de Bolsonaro.

Num primeiro instante foram revelados que Bolsonaro gastou R$ 27,6 milhões, mas na verdade o valor chegou a R$ 75 milhões – o triplo do que fora anunciado no início do mês. A diferença é que as planilhas, divulgadas em 6 de janeiro, não trazem os valores discriminados como o Portal da Transparência, que aponta gastos muito maiores, daí a diferença, segundo reportagem do UOL. Até aquele momento não havia sido feito um levantamento das notas fiscais dos gastos do ex-presidente.

Mas em um novo levantamento publicado pelo jornal Estadão a partir de notas fiscais das compras feitas com cartão corporativo, aparece uma compra de R$ 1.443,07 em apenas um dia, 7 de junho de 2019. Neste dia, o cartão bancado pelos cofres públicos recheados com dinheiro dos impostos pagos pelos brasileiros, pagou a compra de 6,3 kg de picanha maturatta, 15 kg de filé mignon sem cordão e ainda peças de costela defumada, batata palha, potes de palmito e azeitona. 

Os pescados também aparecem na lista de compras da residência oficial. Em abril de 2019 foram adquiridos 4,2 kg de camarão rosa, 7,2 kg de bacalhau e 10,8 kg de filé de robalo. Custo total: R$ 2.241,55.

No intervalo de um ano foram ao menos 14 compras de picanha, 47 de mignon e 15 de bacalhau. Essas despesas eram frequentes – às vezes mais do que uma vez na semana.

Motociatas e hospedagens custaram milhões

Chama a atenção não só o valor milionário, mas o tipo de gastos efetuados com o cartão corporativo. Entraram nessas despesas R$ 100 mil em média por cada motociada que Bolsonaro fez com cerca de 300 militares. Na conta entram alimentação para pilotos, motoristas, seguranças e integrantes do cerimonial.  Isso sem contar os gastos de combustível das aeronaves, custeados pela Força Área Brasileira (FAB). O que era servido durante os trajetos, os chamados serviços de comissária, como a alimentação a bordo do avião oficial, eram contratados, ficando na faixa de R$ 4 mil por viagem.

Bolsonaro costumava dizer que a sua hospedagem em instalações militares não custava nada aos cofres públicos. Mentira. O Estadão levantou que Bolsonaro, em apenas em quatro dias de férias com seus familiares e assessores, em São Francisco do Sul (SC), em fevereiro de 2021, no Forte Marechal Luz, pertencente às Forças Armadas, o custo foi de quase R$ 9 mil.

Reparos em jet-skis e lanchas que ficaram avariadas durante o passeio custaram mais de R$ 5 mil.

Também foi realizada a locação de serviços de antena parabólica e TV por assinatura. Durante essa viagem de quatro dias, as compras de supermercados chegaram a R$ 48 mil. Já a hospedagem no Hotel Ferraretto no Guarujá, litoral sul de São Paulo, chegou a R$ 1,46 milhão.

O cartão corporativo também foi utilizado pelos filhos 03 e 04 do ex-presidente Eduardo e Jair Renan, que gastaram mais de R$ 63 mil em um único dia, durante uma visita a Goiás sem a presença do pai.

Leia mais Com cartão corporativo do pai, 03 e 04 gastaram R$ 63 mil em um dia farra em Goiás.

O motorista de Bolsonaro também usou o cartão. Em 7 minutos, ele sacou R$ 8 mil

A análise das compras

Segundo o Estadão, os documentos das despesas do ex-presidente não são digitalizados. Ficam dentro de pastas guardadas em caixas de plástico. A consulta às notas fiscais, possibilitada pela solicitação da “Fiquem Sabendo” via Lei de Acesso à Informação (LAI), foi feita presencialmente. Um servidor foi deslocado para monitorar o trabalho de consulta. Ao longo de três dias de leitura dos documentos, foi possível analisar cerca de 20% do total arquivado.

 

 

foto:ANDERSON RIEDEL / PR / DIVULGAÇÃO
por: Redação CUT / Rosely Rocha | Editado por: Marize Muniz