Coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, a jornalista Nilza Valéria avalia como “promíscua” a campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) que vem utilizando de cultos evangélicos e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para ampliar sua aceitação entre as mulheres cristãs. Em entrevista a Rafael Garcia, do Jornal Brasil Atual, na edição desta quarta-feira (10), a religiosa condenou a estratégia eleitoral que classifica como “uso político da fé”. “Primeiro que essa estratégia do ponto de vista bíblico, evangélico e cristão, ela nem deveria existir”, criticou Nilza.
Desde a convenção do PL, que oficializou a candidatura do mandatário, no final de julho, a primeira dama vem ganhando cada vez mais espaço na campanha de Bolsonaro. No último domingo (7) ela participou de um culto, em Belo Horizonte, onde voltou a comparar a disputa, que tem como principal adversário o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas como favorito à Presidência da República, como uma “guerra do bem contra o mal”.
Acompanhada de Bolsonaro, Michelle ainda afirmou na ocasião que, antes de o casal chegar ao poder, o Palácio do Planalto era “consagrado a demônios”. E que, atualmente, é “consagrado ao Senhor Jesus”. A fala foi repudiada pela Frente Inter-Religiosa Dom Paulo Evaristo Arns, conforme reportou a RBA. Mas a declaração foi seguida por nova polêmica, dessa vez também racista, proferida pela primeira-dama que atacou Lula e as religiões de matrizes africanas.
Desespero de Bolsonaro
Michelle compartilhou uma publicação da vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos-SP), que diz que Lula “entregou sua alma para vencer essa eleição”. O texto é acompanhado por um vídeo que exibe um encontro do petista com duas mães de santo, em Salvador, no ano passado. Para a coordenadora da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito, as investidas do casal Bolsonaro revelam o “desespero” de sua campanha “por saber que, sobretudo entre as mulheres evangélicas, ele (presidente) tem um altíssimo índice de rejeição”, observou Nilza.
De acordo a última pesquisa Datafolha, apesar de Bolsonaro superar Lula no eleitorado evangélico – o atual presidente tem 43% dos votos contra 33% do ex-chefe do Executivo – a vantagem do candidato do PL sobre o do PT entre as mulheres evangélicas é bem menor do que a observada entre os homens evangélicos, acompanhando o movimento de mulheres, em geral, que rejeitam mais Bolsonaro do que Lula.
Rejeição das mulheres evangélicas
Ao todo, 48% dos homens que se dizem tementes a Deus declaram voto no atual presidente no primeiro turno, enquanto 28% preferem Lula. Entre as evangélicas, contudo, 29% votam em Bolsonaro e 25% em Lula. Pelo menos 34% responderam não saber em que votar no dia 2 de outubro. E até 39% delas também destacam que não votarão em Bolsonaro de jeito nenhum, e 45% rechaçam o voto em Lula.
“Ele tem um altíssimo índice de rejeição entre as mulheres evangélicas”, ressalta Nilza. “E o que vimos em Minas Gerais (no domingo) é um aprofundamento dessa estratégia. Mas, tirando a igreja que o convidou, via de regra, evangélicos não aprovam o uso do púlpito por políticos. Então ele (Bolsonaro) pode até ganhar com isso por um lado, mas ele vai perder também, porque é uma estratégia muito ousada e evangélicos, de modo geral, não gostam da apropriação do púlpito para fins políticos da forma com que eles (presidente e primeira-dama) estão fazendo”, acrescenta.
O movimento cristão, coordenado pela jornalista, avalia que Bolsonaro não contará principalmente com os votos dos fiéis das igrejas mais independentes, que não obedecem a nenhuma lógica com estrutura denominacional. São nesses templos, de acordo com Nilza, que estão a maioria do povo evangélico.
fonte: RBA